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O que nos orienta no que fazemos
cotidianamente? A pergunta é pertinente porque acreditamos agir corretamente
inclusive no nosso trabalho.
A ideia de que há algo exterior a
nós que orienta nosso comportamento e nossas decisões parece bem antiga.
Sócrates fala do seu demônio, que o orientava em sua missão de, através da
maiêutica, aperfeiçoar os homens, trazendo à luz novas ideias assentadas na
própria essência das noções que aqueles julgavam compreender e exercitar. Não
se tratava de um mau demônio e muitas vezes Sócrates referia-se a ele como o
deus.[2]
O cristianismo vai apresentar,
através do apóstolo Paulo, a ideia de que mesmo os pagãos que não conheciam o
decálogo hebreu disporiam da lei da consciência para os orientar.
Compreende-se, a partir do que Paulo escreveu, que os preceitos universais de
Deus constantes das duas tábuas seriam apreensíveis a qualquer homem de
qualquer cultura.[3]
Ninguém estaria, portanto, isento de um julgamento sob o pretexto de que
ninguém lhe havia revelado a moral universal. O livro de Atos parece sugerir
ainda a presença constante de um anjo que auxilia os cristãos, embora neste
caso a orientação pareça estar substituída por uma ação de cunho protetora.[4]
O medo moral de estar só parece ter surpreendido até mesmo Nietzsche, que vai
supor conversas suas entre ele e sua sombra, embora seja sabido que a sombra,
no caso do filósofo, pareça mais um elemento de diálogo do que de
exteriorização de uma consciência orientadora.[5]
Enfim, é possível estar só no que
diz respeito às orientações sobre o que fazemos? Jean-Paul Sartre, para quem
somos condenados à liberdade, orienta aos homens que construam sua própria
essência, que é sempre posterior à existência, fundamentados numa ideia de
liberdade que assume a responsabilidade de si e dos outros.[6]
O fato é que estamos rodeados de exemplos novos e antigos, elementos normativos
das religiões e conteúdos do conhecimento das várias áreas que, a despeito de
divergirem sobre a validade universal ou não de suas proposições, parecem
suficientes para não nos deixarem num vazio de orientações em cada ação,
decisão, atitude.
[1]
Este texto não resulta de uma motivação de sala de aula, como os demais, mas de
uma motivação de escrever que me acompanha sempre.
[2]
Cf. PLATÃO. Apologia de Sócrates. São
Paulo: Martin Claret.
[3]
Cf. Romanos, cap. 1 e 2.
[4]
Cf. Atos 12.15.
[5]
Cf. Friedrich NIETZSCHE. O viajante e sua
sombra. São Paulo: Escala. Não li o
livro inteiro, então posso estar enganado sobre as conclusões que fiz sobra a
relação entre o filósofo e sua sombra.
[6]
Cf. Jean Paul SARTRE. O existencialismo é
um humanismo. Li uma versão digital.
O assunto é bastante complexo mas bem pertinente. Entendo que o fato do homem ter sido criado segundo a imagem e semelhança do Criador, implica também na responsabilidade moral e na necessidade de culto. Embora nem sempre exista uma leitura perfeita desta necessidade, talvez em razão da natureza original comprometida ainda no Éden.
ResponderExcluirMuito bom, Admir!
ExcluirDada a multiplicidade de religiões cristãs que se assumem portadoras do conhecimento adequado sobre o retorno à natureza original, além das não cristãs, mas que também assumem a ideia de algo parecido com "a queda", qual a garantia de estarmos no caminho certo? E haveria algo fora do cristianismo coerente com essa verdade?
Sulo, a questão não se resolve apenas no campo da ciência e nem teológico. Particularmente o que me conforta é a fé que cultivo em Jesus Cristo, ao meu ve,r o único acesso do homem a Deus; A questão é se eu estivesse em um outro contexto bem distante do Cristianismo, por exemplo tivesse nascido num país árabe, será que teria a mesma posição? Mesmo assim, continuo focado em Jesus, embora não consigo entender o porque deste contexto, não vejo outra saída para a humanidade.
ResponderExcluirSe estivesse num contexto cristão quase que necessariamente não veria assim. Por outro lado, o próprio Cristianismo admite a percepção da lei da consciência como algo universal e que auxilia qualquer um em qualquer cultura. A questão é, então, os limites dessa consciência universal: ela deve necessariamente incluir o conhecimento sobre o Filho?
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