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A
temática indígena ontem esteve bem presente na minha rotina. À tarde vi
rapidamente postagens no facebook sobre o anúncio de suicídio coletivo de
índios Guaranis Caiovás no Mato Grosso do Sul enquanto à noite travei um
diálogo acirrado com alunos do ensino médio sobre os indígenas no Brasil, ao
introduzir a temática “História dos povos indígenas do Tocantins”, constante da
proposta curricular que a inclui entre os conteúdos a serem ministrados no
ensino médio.
Impressionante
o quanto ignoramos a questão indígena ou temos uma visão equivocada das
relações que se devem estabelecer entre indígenas e não-indígenas no território
brasileiro! Neste caso, a visão que muitos alunos apresentam é nada mais nada
menos que aquela que foi ensinada durante muito tempo pela escola ou que é
compartilhada por pessoas que têm uma visão desenvolvimentista do país, segundo
a qual os índios se apresentam apenas como empecilho ao desenvolvimento. E na
condição de professor, uma vez ciente da força desse pensamento anti-indígena
presente inclusive na nossa comunidade, acredito que é minha responsabilidade situar
os alunos numa análise dos condicionantes históricos que geraram esse tipo de
pensamento, em vez de simplesmente taxá-los de desumanos, capitalistas ou coisa
do tipo. Percebe-se a partir disso o quanto a escola historicamente tem
ignorado temáticas importantíssimas para a garantia de direitos a todos os
brasileiros e, portanto, acirrado o pensamento e atitude de não indígenas
contra cerca de 230 etnias indígenas que habitam o país, um número
significativo, a despeito de cinco séculos de extermínio em que mais de cinco
milhões de índios se reduziram a menos de 5% da quantidade original.
Reavaliar
as ações docentes pode ser uma alternativa para que futuramente não estejamos
assistindo a grupos indígenas anunciarem o próprio suicídio diante de uma
indiferença governamental que só não é maior do que a indiferença dos
brasileiros em geral. O mesmo se pode dizer em relação a muitos outros grupos
historicamente massacrados, como aqueles que não dispõem de terra para
trabalhar, por exemplo, em razão dos processos tradicionais de distribuição de
terra no Brasil (capitanias, sesmarias, grilagem). Para muita gente, sem-terra
e indígenas representam apenas atraso para o país, uma vez que a ideia de
humanização e convívio pacífico dos povos foi substituída pela de produção e
consumo inconsequentes.
Este
é o Brasil – e por que não dizer o mundo! – das desigualdades. E estes somos nós,
seres “humanos”.
A ideia de que o índio representa um obstáculo ao desenvolvimento, se dá em função de que grandes áreas do território nacional se constituem em reservas indígenas. Alem disso, essas reservas estão quase sempre localizadas em áreas estratégicas para a expansão agrícola, ou, encontram-se sobre gigantescas jazidas minerais. Isso, sem falar nas riquezas representadas pelos ainda vastos recursos vegetais madeireiros e não madeireiros, só acessíveis mediante condições especiais onde o rigor da legislação indigenista impõe sérias restrições.
ResponderExcluirA bem da verdade, as dificuldades de relacionamento entre índios e não índios, se devem a fatores residuais que remontam ao período colonial brasileiro, quando os invasores europeus, diante dos costumes singulares dos indígenas passaram a ter em conta que índio era um pouco menos que gente. A religião, as relações sociais e os costumes em geral entravam em choque direto com a sofisticada civilização européia, de forma que pouca coisa daí se aproveitava. Obviamente que o tempo, e a natureza tropical se encarregaram de proporcionar um ajuste de condutas, e tanto índios quanto europeus foram adotando o que julgavam mais conveniente da cultura adversária, não sem prejuízos, principalmente para os índios, que viram-se usurpados de tudo que construíram e guardaram zelosamente ao longo de milênios.
Sabemos que não foi uma transição pacífica. Houve conflitos sangrentos, mas as relações de força eram imensamente desfavoráveis aos índios, afeitos a conflitos tribais necessários à manutenção se suas soberanias. As lutas entre índios e europeus, quase sempre tinham como resultado o extermínio de aldeias inteiras, com poucas baixas entre os invasores melhor preparados em armas e táticas de guerra.
E assim, o saldo que se tem hoje, do que poderia ter sido um rico intercambio comercial e cultural, é a redução da população indígena para cerca de um quinto da que havia na época do “descobrimento”; cerca de quinze etnias extintas, e outras tantas reduzidas a simples mestiços, já totalmente desprovidos de cultura ancestral, e a idéia geral de que índio é mentiroso e não quer nada com trabalho, preferindo ocupar seu tempo tomando pinga e fumando “diamba” ou algo equivalente.
Comentário extenso? Sim. Muito! Espero, com ele, ter contribui com o texto do professor Sulo, nessa oportunidade em que tenta resgatar o respeito devido a esses a quem costumamos chamar de verdadeiros brasileiros
Uma abordagem impressionante, Juno, digna de uma publicação com espaço que não fosse a de um simples comentário.
ExcluirSinta-se sempre bem vindo a este simples espaço de publicação docente.