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Hoje é dia pra meditar na essência da nossa profissão, sobre
o sentido do nosso trabalho, pois isso determina a qualidade do que fazemos em
sala de aula. Sócrates queria ensinar valores fundamentais a uma sociedade cada
vez mais individualista, afetada pelo desenvolvimento econômico propiciado pelo
expansionismo ateniense, daí sua insistência em questionar sobre o que as
pessoas realmente entendiam sobre os valores que anunciavam vivenciar
hipocritamente.
Os sofistas, por outro lado, queriam aproveitar o momento de
ascensão de uma nova classe, a burguesia, e auxiliá-los no conflito contra as
tradicionais aristocracias. O espaço propiciado pelos espaços democráticos
poderia ser conquistado por quem tivesse ótimas habilidades retóricas – eis aí,
então, a missão dos sofistas: preparar jovens das classes ascendentes para o
usufruto do poder político. Os sofistas faziam isso por dinheiro, o que
desagradava muito a Sócrates, que via no ensino a oportunidade de melhorar as
pessoas, não torná-las meros oportunistas diante das novas situações que se
formavam.
E qual seria o sentido da nossa atividade hoje? De algum
modo temos um pouco de Sócrates e dos sofistas, na medida em que pretendemos
formar um indivíduo ético para atuar num contexto de individualismo,
pragmatismo, relativismo moral e hipocrisia, enquanto a influência sofista nos
motiva a preparar pessoas para terem sucesso nesse contexto. As coisas parecem
nos indicar que não temos tido sucesso numa coisa ou noutra, mas de algum modo
nossos alunos, ou por influência nossa ou do contexto geral mais amplo, estão
se adequando mais às exigências do modelo capitalista em vigor do que as
enfrentando.
De algum modo poderíamos dizer que, na condição de
professores, fazemos algo que compreendemos apenas vagamente. Acredito que é
muito raro alguém se questionar por que lecionamos para alunos em turmas,
revezando-se nas mesmas salas de aula com colegas de profissão, preparando
alunos para o trabalho num contexto de acentuada automação.
Para Gilberto Luiz Alves, compreender a função da escola em
qualquer tempo tem a ver com a compreensão de seus condicionantes materiais,
isto é, “o entendimento histórico de seu processo de produção.”[i]
Referindo-se de forma bem simplista ao pensamento deste autor, vale dizer que a
função da escola em determinado momento histórico deve ser compreendida sem se
ignorar as demandas maiores do capital.
No momento não disponho de coragem para tentar resenhar suas
principais teses sobre o modo como a escola se produziu historicamente e o modo
como a escola atende hoje às especificidades do atual momento econômico. Apenas
afirmo que ignorar uma análise desse tipo é como atirar no vento e ainda se
achar portador de uma certa nobreza decorrente de uma função que nem sequer
sabemos bem a que interesses atende.
De qualquer modo, a nobreza da profissão docente precisa ser
construída a partir de uma compreensão do que fazemos e do que devemos fazer na
condição mesma de professores.
[i]
ALVES, Gilberto Luiz. A Produção da
Escola Pública Contemporânea. 4 ed. São Paulo: Autores Associados, 2006, p.
1).
Não se aflija, professor!
ResponderExcluirImagino que é muito difícil alguém exercer uma atividade/profissão com pleno domínio de causa e efeito. Professores são como operários na construção de uma estrada. Trocam frequentemente de ferramentas, trabalham em turnos, e nunca têm certeza de aonde levará tal estrada. Talvez seja melhor assim...
É que não me sinto bem rolando a pedra e vê-la despencar o tempo todo, como Sísifo, sem me dar conta do que realmente significa tudo isso, Juno!
ExcluirEis, então, a angústia do trabalho docente tal como se apresenta pra mim.
De qualquer modo, obrigado pela palavra de ânimo.
Boa tarde, sou estudante de Mestrado em Comunicação na Universidade de Brasília e vi, pelo Skoob, que você possui o livro "Marxismo e Literatura", do Raymond Williams e "abandonou" a leitura. Você ainda tem interesse em ficar com o livro? Gostaria de compra-lo. Ele é de meu interesse para o curso. Abraços.
ResponderExcluirMeu contato: querrerjornalismo@gmail.com