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Considero que a vontade de aprender sufocaria qualquer
vestígio de indisciplina na sala de aula, a menos que as expectativas dos
alunos não fossem atendidas. Neste caso a indisciplina seria notada apenas em
aulas em que o professor vacilasse no domínio do conteúdo, em que permitisse
que uma personalidade sua, agressiva, por exemplo, se impusesse na sala ou
quando os alunos estivessem se manifestando contra situações envolvendo
posturas da direção ou outras relacionadas à infraestrutura do ambiente escolar.
De qualquer modo, considerando o contexto escolar local, a vontade de aprender
suprimiria em absoluto qualquer empecilho à aprendizagem que pudesse se
apresentar da parte do aluno, sem levar em consideração questões de outra
ordem, como certas dificuldades de aprendizagem.
Como a vontade de aprender é um elemento quase que
totalmente ausente do espaço escolar em que atuo certas formas de indisciplina
terminam germinando e se reproduzindo cada vez mais a cada ano. Há alunos
extremamente dedicados, mas em algumas ocasiões parecem se incluir, mesmo que
involuntariamente, em práticas avessas à aprendizagem e até mesmo em atitudes
indisciplinares. Outros que tentam de todo se isolarem podem até sofrer
desmoralização. É como se se sentissem excluídos do grupo mais geral, mais ou
menos como o estereótipo do nerd
americano em suas relações com os demais alunos.
Até aqui se percebe já que tipo específico de indisciplina
está sendo referido aqui. Não se trata de uso de violência com armas contra os
colegas ou contra os professores, mas outras formas de indisciplina que se
caracterizam pela imposição de um ritmo próprio às aulas conforme a atitude de
aversão à aprendizagem própria de nossa clientela. Trata-se das conversas
excessivas e intermitentes em alto e bom som sobre assuntos do cotidiano local.
Em algumas turmas a situação só é normalizada depois de árdua troca de farpas
entre alunos e professores. Pedagogos por demais otimistas e distantes do
cotidiano escolar dirão que tais assuntos dos alunos são oportunidades para
explorar situações didáticas que levem em conta as temáticas ou assuntos
introduzidos pelos alunos, mas convém dizer que não se trata disso, uma vez que
qualquer tentativa de camuflar as aulas com temas do cotidiano será frustrada
tão logo seja percebida enquanto tal.
Como combater tanta aversão ao saber? Pra começar poderíamos
refletir sobre as suas causas, que para mim tem muito a ver com as
características atuais da sociedade de consumo embebida e conduzida por
discursos midiáticos com um potencial alienador de eficácia incrível. Valores
culturais, sociais e estéticos subordinados à logica do binômio
produção/consumo são introjetados intermitentemente no nosso público escolar de
forma eficiente e com consequências terríveis para o processo de aprendizagem
escolar. Esses valores, por estarem também presentes nas instituições em geral,
terminam por consolidar um perfil de estudante totalmente estranho,
indiferente, resistente ao saber.
Geralmente se atribui às instituições família e igreja, por
exemplo, responsabilidades por esse estado de coisas. A maioria das
considerações feitas nesse sentido ignora, entretanto, que essas instituições
também são vítimas da ideologia danosa do capital que prescreve valores outros
que não os de aprendizagem do saber ensinado na escola. É por isso que podemos
perceber alunos no espaço escolar aparentando a prática de penitências (pés
descalços, por exemplo), enquanto não dão a mínima para as regras escolares ou
pelo menos para o que prescreve o bom senso, como é o caso de permitir que o
professor apresente um tema em sala com a atenção devida.
As instituições sociais (família, igrejas, associações em
geral) precisam acordar para a percepção da constituição histórica dos perfis
de aluno em evidência na contemporaneidade e agir em consonância com a escola
em favor da formação das gerações que se sucedem. Em vez do
anti-intelectualismo, da postura antagônica expressa à escola enquanto espaço
de representação do saber secular, precisam perceber a origem de determinadas
problemáticas sem recorrer unicamente ao critério espiritual, por exemplo, ou
do senso comum em geral, como o fazem muitos pais de família.
Até que isso aconteça assistiremos a paradoxos como o do
penitente/indisciplinado e do aluno que se fecha à luz.
Meu caro, é realmente preucupante. Essa onda de não responsabilizar os "menores" por suas ações as vezes até crimonosas, acaba fazendo com que essa clientela acabe pensando que podem tudo, inclusive não aprender, atrapalhar, desrespeitar todos, incluisve pais e professores. O pior, é que essa impunidade, na minha opinião, é também uma forma de dizer que não estão nem ai pro povo. Não se cobra, não se ensina, a pobreza e a marginalização se torna um ciclo vicioso, e a pequena elite faz a festa no final de tudo, iclusive com o apoio dos trabalahdores burocratas que assumem cargos independetemente da competencia que tem... por isso digo: viva os homens de ideais altruistas.
ResponderExcluirRealmente muito preocupante...
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