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Há mais ou menos dois meses não publicava aqui no diário.
Compreensível, considerando que estávamos em férias em boa parte desse período
e não pude me confrontar com os incidentes próprios de sala de aula que me
motivam a escrever pra esta página.
Mas eis as aulas em curso e minha pena novamente em ação.
Pra começar em clima de mais um conflito, pois, diferentemente do poeta não
pude me conter “em face do maior encanto” – a possibilidade já quase realizada
de um novo emprego e toda a insipidez própria da realização de atividades que
já se cogita abandonar.
Mas vamos às salas de aula. Novidades? Sim! Ou pelo menos
avanços, melhorias pontuais, relativas. É evidente a ampliação, ainda que
mínima, do círculo de leitores, principalmente aqueles ávidos pelas sequências
ficcionais de Rick Riordan. Da minha parte continuo enfatizando (o que já
parece até chato pra muitos) a necessidade da leitura constante e diversificada
como condição para o sucesso escolar, profissional e a compreensão e
transformação do mundo. E é exatamente a ausência da leitura que dificulta a
compreensão das noções simples de filosofia ou sociologia ou o contato com a
produção literária em geral. Numa aula sobre o conto não é estranho ouvir de
alunos a quem pedi que lessem um exemplar machadiano – “Que invenção, essa sua,
professor!” ou reclamações sobre o número de páginas do texto, que eram três.
Relacione a isso o padrão do material didático ao impor conceitos, noções,
níveis de leitura e discussão que parecem enquadrar um perfil típico de aluno –
o leitor, o curioso, o estudante.
Uma dificuldade sempre latente na sala de aula é a
aquela, enorme, que têm os alunos de lidar com o princípio voltairiano do
respeito à liberdade de expressão. Aliás, foi um dos poucos elementos
contratuais que discuti em sala de aula – o respeito à fala do outro, ainda que
ingênua. Em oposição à luta “até o fim” pela direito à fala do outro
pereniza-se a zombaria, muitas vezes, a indiferença, a hostilidade própria aos
que não sabem o que é estudar porque nunca viram um exemplo real disto conforme
o fazem as classes ou grupos que depositam na aprendizagem do saber
convencional a permanência secular que esses estratos usufruem na hierarquia
social.
Obviamente que esse retrato não é totalmente homogêneo. Há alunos que fazem valer a pena
qualquer sacrifício docente, que fazem ressurgir o ânimo dos que acreditam ser
a escolarização do oprimido um ato de rebeldia contra o status quo. Mas esse número é dos que se obscurecem em face da
turba misosófica.
Enfim, vamos ver como as coisas se processarão nestes dias
de dilemas e conflitos entre as novas oportunidades de trabalho e a missão de
educar os não esclarecidos. Uma coisa é certa: que as massas nasceram para as
cavernas da ignorância e que estão dispostas a hostilizar, quase sempre,
qualquer um que se arrogue a posição de esclarecedor, de parteiro de ideias, e
o exemplo de Sócrates é sempre eloquente pra corroborar isso.
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