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Presenciei em sala de aula ontem uma situação que não é
esporádica, mas que me motivou a escrever novamente. É uma situação cuja
responsabilidade maior a atribuo ao sistema em geral em seus aspectos políticos
e a cultura escolar daí decorrente. Não sou muito de direcionar a crítica
apenas ao famigerado sistema como se o professor fosse algum tipo de mecanismo
que se não executa perfeitamente suas funções a culpa é de algum elemento
ausente, assim como o automóvel não funciona na ausência de álcool ou gasolina.
Essa crítica parece desconhecer que o professor, em suas concepções e práticas,
é uma construção social e que o bom ensinar também se situa num contexto de
múltiplas determinações – o que é o ensinar bem ou o aprender bem obstruídos
pelo sistema, como geralmente reclamamos?
Pois bem. Um aluno daqueles não aplicados, tagarelas, que
veem a sala de aula como um momento de atualizações,
para usar um termo das redes sociais, devolveu um teste avaliativo sob a
desculpa de que não sabia o assunto mas com o tom de que não iria responder e
que aguardaria um outro, expressando em suas palavras e expressões não verbais
o fato de que o sistema o habituou a passar de ano em prejuízo da aprendizagem,
cabendo à escola prover meios de fazer com isso aconteça, inclusive atribuindo
a nota sem o menor esforço do estudante. Vendo a mim como parte desse sistema,
o aluno em questão ameaçou devolver a prova em branco, ao que reagi indo ao
encontro pegar-lhe a prova. Percebi, entretanto, que havia fugido à lógica
imposta e o aluno parece de algum modo ter ficado um pouco desapontado. É como
se a minha atitude devesse ter sido outra, permitindo ao aluno consultar o
livro ou caderno ou permitir que se sentasse junto a um colega e realizasse procedimentos
de Ctrl+c + Ctrl+v (perdoem-me o
internetês).
E por que o sistema político e educacional é responsável por
isso? Porque na maioria das vezes corre atrás apenas de números desvinculados
de resultados concretos para atender expectativas de organizações
internacionais ou se “sair bem na foto” para a próxima campanha. Um outro
elemento que contribui para isso são as lotações de funções com critérios
políticos. Quem assume esses cargos se percebe como na obrigação de devolver
números como condição para a permanência na função e isso parece valer desde o
professor até o cargo mais alto numa estrutura de poder responsável pela
educação das massas. E não se trata de elementos hipotéticos de discursos
intelectuais (presunçoso eu, hein?) mas de considerações a partir de discursos
de muitos professores sobre a sua própria prática e técnicos de órgãos de
supervisão escolar.
E o professor é inocente nessa situação? A começar pelo que
oferece números em vez de resultados práticos, a culpa é bem grande. Mas há os
que primam pelos resultados práticos ignorando que toda essa configuração
requer atitudes suas de desestruturação desse status quo educacional. São os que dizem: “Estou fazendo a minha
parte; que o sistema faça a sua.” Ignoramos que o sistema não é algo isolado,
distante, apesar do poder de influência, mas algo totalmente presente no
contexto de formação escolar utilizando inclusive o meu silêncio ou anuência
expressa para que as coisas permaneçam como estão.