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Um amigo intelectual me disse que
as mudanças não ocorrem sem que antes ocorram graves crises que as motivem,
crises que devem ser percebidas pelos agentes da mudança. A conversa girava em
torna da escola pública e do desvanecimento de todo e qualquer idealismo que uma
vez se nutriu da possibilidade mesma da mudança na trágica formação das massas
brasileiras. Pretendo então discorrer aqui sobre o idealismo e a mudança.
A história de alguns idealistas
nos parece sugerir um movimento parabólico em que aqueles inicialmente são
ovacionados por suas ideias, rodeados de discípulos e, por fim, rejeitados por
todos e condenados a desaparecerem. Recuso-me a ver Jesus Cristo como um
simples idealista, mas pelo menos aparentemente sua trajetória também é parabólica,
com um início auspicioso, situações de clímax representadas pelas multidões em
torno de si até chegar ao fim aparentemente trágico, em que foi rejeitado por
um dos próprios discípulos, Pedro. Outro exemplo ilustre é o de Sócrates, que após
conquistar muitos alunos com sua maiêutica revolucionária mantém, ao fim, a
dignidade ao preço da ingestão da cicuta. É inegável que a mudança ocorreu ao
preço dos sacrifícios, assim como é inegável a cruel inexorabilidade do
movimento parabólico que relega os idealistas a não compartilharem da glória
que constitui o seu legado (pelo menos Cristo verá o trabalho de suas mãos, e
ficará satisfeito Is 53).
Modéstia à parte, também me vi e
me vejo como idealista, embora a anos luz daqueles em relação à grandeza de seu
legado, mas é como se assistisse já também ao declínio da curva de minhas
ações, como se já vislumbrasse minha própria cruz (sem ofensa à morte de
Cristo) ou recipiente venenoso. Se é possível também vislumbrar qualquer tipo
de legado em relação ao que faço e a grandeza disso não estou tão certo quanto
em relação à curva de minha militância que parece se aprofundar
vertiginosamente. Mas é provável que a mudança que tanto preconizei e aguardei
ocorra algum dia ao sabor das ações de novos idealistas que multiplicarão essas
curvas até o infinito.
Talvez não pertença aos idealistas
de hoje conseguir fazer essa percepção de uma crise emergir nas mentes dos
milhões e milhões de infelizes que povoam os espaços públicos de formação. É
como se os condicionantes estruturais do momento transcendessem em poder e
força a rarefeita militância dos que querem ocasionar surtos de mudanças. Sem
querer cair nos determinismos próprios dos covardes, é possível que realmente
ainda não estejam dadas as condições para essa percepção. Pais, alunos, professores,
sistema escolar – todos parecem dormir profundamente enquanto governos e
setores produtivos enriquecem às custas da manutenção do status quo. E mesmo depois de cinco séculos não há sinais de
despertamento.
Ou talvez eu seja só mais um
covarde renunciando a uma vocação, a de lutar contra o declínio da curva em vez
de antecipá-la. Ou não. O dilema é também a razão do texto.
Ouvi falar certa vez que quando o ser humano sofre um impacto muito significativo em sua vida, seja algo muito bom ou muito ruim(ganhar na loteria ou ficar tetraplégico por exemplo), dentro de pouco tempo: cerca de 2 a 3 anos ( varia de pessoa pra pessoa), o cérebro graças ao processo evolutivo que urge pela preservação da vida, encarrega-se de normalizar: sair da alegria efervescente do novo milionário ou do estado triste, depressivo ou até suicida do novo sofredor para readaptar-se e continuar vivendo de maneira meio igual ao que estava acostumado. Talvez ocorra o mesmo com os idealista. Não é covardia dos deterministas e nem de quem quer que seja, porém junto com o que há de melhor do conhecimento vem muitas vezes angústia. Um filósofo disse que a ignorância eleva a felicidade assim como o conhecimento também pode elevar. Vamos torcer para que aparecem jovens rebeldes pra cutucar o sistema opressor. Todavia, no final das contas, idealistas, aproveitadores, sonhadores, pés-no-chão.... como diz o filósofo carimbozeiro Pinduca “ tudo acaba no buraco”.
ResponderExcluirEntão aprendamos a pescar, curtir uma boa sombra, um bom livro e tentar conviver no caos.
Rsrs...
ExcluirQue a cabeça normalize, pois o status quo que nos desequilibra e decepciona parece que vai continuar na normalidade por muito tempo.
É isso aí, vou procurar alguma coisa pra fazer. A sugestão do livro parece ótima, embora não uma novidade pra mim.