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Neste bimestre um dos temas de discussão em filosofia no
ensino médio é a liberdade. Aprendi que os alunos têm uma concepção de
liberdade que precisa ser compreendida devidamente antes que se discuta
qualquer ideia sobre o assunto própria das discussões filosóficas, sob pena de
essas discussões terminarem improdutivas.
A ideia geral de liberdade mantida pelos alunos é a de ausência
de impedimentos para se fazer algo. É uma ideia de liberdade que também
considero válida, posto que difundida, compreendida e utilizada cotidianamente
nas interações com os outros. Alguns alunos em geral dizem que não somos livres
se há leis ou regras que nos impedem de fazermos o que temos vontade de fazer
num dado momento.
Ao introduzir o estudo da liberdade a partir de vários
autores discuti com alguns alunos, a começar pela obra de Guilherme de Ockham,
que a liberdade, ainda que signifique a possibilidade de se escolher entre o
sim e o não envolve também assumir a responsabilidade pela decisão tomada.
Neste sentido, digo aos alunos, a presença da lei não é impeditiva da liberdade
humana, mas orientadora (como bem observou uma aluna durante uma discussão) ou
punitiva para as escolhas que interferem no equilíbrio das relações humanas. A
lei não é um impedimento às ações humanas e isso pode ser exemplificado
inclusive pela desobediência às regras em geral que orientam ou punem as
relações interpessoais.
Costumo chamar a atenção dos alunos para um aspecto especial
em relação à liberdade, que é se quando agimos o fazemos livremente ou se somos
simplesmente induzidos inconscientemente para praticarmos ações que na verdade
não escolhemos praticá-las. Os alunos em geral acreditam-se livres, neste
aspecto, sobretudo ao mencionarem animosamente a liberdade de ação em relação à
tutela dos pais nos dia atuais. Noutras palavras, consideram-se absolutamente
livres enquanto sujeitos de ação. Naturalmente referem-se à possibilidade de
irem às festas sem pedir ou submeterem-se a horários, vestirem-se como querem,
namorarem livremente e agirem em geral diferentemente de como os jovens de há
algumas décadas atrás agiam.
Certa vez lhes confrontei afirmando que o fato de os pais
terem perdido poder sobre a conduta dos filhos não os torna agora livres como
pensam. Digo-lhes que houve uma simples troca de submissão, daquela dos pais
para a dos padrões normativos ditados pelos meios de comunicação, que estabelecem
modos de ser e agir específicos para os jovens das gerações atuais.
Pergunto-lhes que músicas ouvem, que filmes veem, a que programações
televisivas assistem, que roupas vestem, que esportes praticam, que penteado
exibem e o que leem ou por que não leem. Se os pais não mais controlam esses
gostos dos filhos não significa que eles próprios os escolhem, mas que simplesmente
aderem aos padrões estabelecidos pelas propagandas em geral. Alguém poderia
julgar livre um jovem que exibe um moicano e biruta um que usa calças jeans
lisas tradicionais. Mas perguntemos: quem está fugindo de padrões
estabelecidos? Quem mais parece livre?
Não se trata de relacionar liberdade à subversão pura e
simples mas de estimular a reflexão sobre se há liberdade quando nosso
comportamento é completamente condicionado pelo ambiente externo de forma
inconsciente e se há alguém que ganha com isso.
A discussão sobre a liberdade, que começou com Ockham,
continuará com Etienne de Lá Boètie, Rousseau e Sartre. Até lá espero aprender
bastante com meus alunos sobre a liberdade e até que ponto somos ou não livres.