A esperteza é uma das muitas qualificações (ou vícios?) que
se pode atribuir aos alunos, que utilizam, dentro dessa característica,
artifícios como a cola, a dor de barriga, dentre outros, para se safar da cada
vez mais chata e intolerável sala de aula. Obviamente que isso não é uma
característica de todos os alunos, mas que lhe será tão inerente quanto mais
aversão ele tenha pelas aulas.
Um evento numa dessas semanas de provas me mostrou até onde
vai essa esperteza discente. Costumávamos aplicar provas de disciplinas iguais
em horários iguais, para evitar que uma prova já aplicada repercutisse seus
resultados numa turma que faria a mesma prova, num horário posterior. Conquanto
houvéssemos mudado a estratégia de aplicação de provas, realizando provas de
uma disciplina em horários distintos, ocorreu a alguns alunos que as provas aplicadas
nos primeiros horários seriam realmente as mesmas a serem aplicadas, ipsis literis, num horário ou dia posterior,
para as turmas de mesma série.
Neste caso específico a esperteza manifestou-se ingênua ao
crer que um professor seria realmente maluco
ao reproduzir as mesmas provas nas mesmas séries em horários distintos.
Resultado: vários alunos que não tiveram sequer o trabalho de ler as questões
da prova zeraram nos resultados, ao
responderem-na simplesmente com base no gabarito de uma prova recém-aplicada,
numa outra turma. Da minha parte faltou avisá-los da diferença entre as provas,
mas acredito que da parte deles faltou aquilo que é essencial ao se fazer
provas: lê-las! Um aluno ainda mais esperto que os outros notou algo de
estranho na prova, que parecia não concordar com o gabarito adquirido, mas percebeu
isso porque lera a prova.
Por mais cômico que isso pareça – prefiro considerar como
trágico – é suficiente para refletir até onde alunos avessos ao saber podem ir
com suas práticas de esperteza para se livrarem do confronto com o saber. Se
houvesse uma política educacional que simplesmente lhes certificassem sem sua
presença nas escolas, para uma maioria deles, seria a escola ideal. E é
surpreendente que muitos pais de alunos compartilhem dessa ideia.
Eu, particularmente, prefiro debruçar-me numa investigação
sobre o porquê de tanta aversão ao saber, manifestada através de atitudes as
mais estapafúrdias de muitos alunos, e refletir sobre como interferir neste
contexto de misosofia que tanto atribui à escola o papel de vilã, algoz de quem
só quer ser feliz à expensas da escola.
De que modo a família, a mídia, a própria escola (muitos de
nós, professores, temos aversão ao saber), as instituições em geral contribuem
para corroborar o papel de vilã da escola – eis uma tarefa à qual me proponho
vez por outra investigar, mas parece tão complexa quanto o são o número de seus
condicionantes.
Mas é isso aí... Fazer o quê? É partir pra cima.
Isso mesmo, Gomez. O sistema faz a parte dele, mas a gente é teimoso e continua fazendo a nossa.
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