segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Peripécias de alunos em semana de provas



A esperteza é uma das muitas qualificações (ou vícios?) que se pode atribuir aos alunos, que utilizam, dentro dessa característica, artifícios como a cola, a dor de barriga, dentre outros, para se safar da cada vez mais chata e intolerável sala de aula. Obviamente que isso não é uma característica de todos os alunos, mas que lhe será tão inerente quanto mais aversão ele tenha pelas aulas.

Um evento numa dessas semanas de provas me mostrou até onde vai essa esperteza discente. Costumávamos aplicar provas de disciplinas iguais em horários iguais, para evitar que uma prova já aplicada repercutisse seus resultados numa turma que faria a mesma prova, num horário posterior. Conquanto houvéssemos mudado a estratégia de aplicação de provas, realizando provas de uma disciplina em horários distintos, ocorreu a alguns alunos que as provas aplicadas nos primeiros horários seriam realmente as mesmas a serem aplicadas, ipsis literis, num horário ou dia posterior, para as turmas de mesma série.

Neste caso específico a esperteza manifestou-se ingênua ao crer que um professor seria realmente maluco ao reproduzir as mesmas provas nas mesmas séries em horários distintos. Resultado: vários alunos que não tiveram sequer o trabalho de ler as questões da prova zeraram nos resultados, ao responderem-na simplesmente com base no gabarito de uma prova recém-aplicada, numa outra turma. Da minha parte faltou avisá-los da diferença entre as provas, mas acredito que da parte deles faltou aquilo que é essencial ao se fazer provas: lê-las! Um aluno ainda mais esperto que os outros notou algo de estranho na prova, que parecia não concordar com o gabarito adquirido, mas percebeu isso porque lera a prova.

Por mais cômico que isso pareça – prefiro considerar como trágico – é suficiente para refletir até onde alunos avessos ao saber podem ir com suas práticas de esperteza para se livrarem do confronto com o saber. Se houvesse uma política educacional que simplesmente lhes certificassem sem sua presença nas escolas, para uma maioria deles, seria a escola ideal. E é surpreendente que muitos pais de alunos compartilhem dessa ideia.

Eu, particularmente, prefiro debruçar-me numa investigação sobre o porquê de tanta aversão ao saber, manifestada através de atitudes as mais estapafúrdias de muitos alunos, e refletir sobre como interferir neste contexto de misosofia que tanto atribui à escola o papel de vilã, algoz de quem só quer ser feliz à expensas da escola.

De que modo a família, a mídia, a própria escola (muitos de nós, professores, temos aversão ao saber), as instituições em geral contribuem para corroborar o papel de vilã da escola – eis uma tarefa à qual me proponho vez por outra investigar, mas parece tão complexa quanto o são o número de seus condicionantes.

Mas é isso aí... Fazer o quê? É partir pra cima.

Um comentário :

  1. Isso mesmo, Gomez. O sistema faz a parte dele, mas a gente é teimoso e continua fazendo a nossa.

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