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O tema do amor é parte integrante
do currículo de filosofia da 2ª série do ensino médio e costuma ser um tema
que, a princípio, chama muito à atenção aos alunos, sobretudo às alunas.
Desnecessário falar que logo que percebem que a discussão sobre o amor
transcende a análise do amor romântico ou mesmo das paixonites, muitos alunos
parecem se desinteressar do tema.
Inicialmente costumo
dialogar com eles sobre as mais variadas formas de amor: a maternal, a paternal
e todas as ligadas pela consanguinidade, o amor agapé, o amor romântico, o Eros
da antiguidade clássica grega e também discutimos sobre a paixão. As discussões
são limitadas pela própria incapacidade minha de mobilizar muitos saberes e
experiências que deem conta da complexidade que caracteriza todos esses amores.
Os amores consanguíneos,
apresento-os sempre como instintivos. O agapé,
a partir de 1 Co 13; o amor romântico, a partir de uma discussão sobre o que é
paixão e o que é amor além de promover ainda um intenso debate sobre o seu fim
na atualidade. Neste sentido, utilizo, para tratar do amor romântico, sua
distinção da paixão e a ideia do fim do amor romântico, de alguns textos
específicos: a obra Cristianismo puro e
simples, de C. S. Lewis, o soneto de
fidelidade, de Vinícius de Moraes, e alguns textos que circulam na web
sobre o fim do amor romântico que utilizam autores como Zygmunt Baumann e
Flávio Gikovate.
Para C. S. Lewis a paixão,
puro instinto, distingue-se do amor pela característica deste de ser atividade,
o que requer cultivo, vontade de amar. A paixão, na condição de instinto, tende
a esvaziar-se tão logo se satisfaça nas primeiras vivências de um casal, embora
possa durar até uma vida inteira. No caso de ir embora a paixão o amor pode
suprir a relação com o afeto, o carinho, a vontade de amar, que pode fazer
sobreviver uma relação “até que a morte os separe.”[1]
No caso do soneto de
Vinícius de Moraes, utilizo-o para tratar da possibilidade do fim do amor que,
a despeito disso, pode ser vivido intensamente: “Eu possa me dizer do amor (que
tive):/ Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.”[2]
A ideia do fim do amor
romântico parece ser endossada por alguns autores que se identificam com a
chamada pós-modernidade. É como se “viver um relacionamento plenamente
satisfatório num mundo de contatos rápidos, de bens descartáveis, em que a
próxima tentativa – ou o próximo clique – pode trazer resultados melhores do que
os obtidos até então” não fosse mais possível.[3] De acordo com Zygmunt
Baumann, "nunca houve tanta liberdade na escolha de parceiros, nem tanta
variedade de modelos de relacionamentos, e, no entanto, nunca os casais se
sentiram tão ansiosos e prontos para rever, ou reverter o rumo da relação"[4]. Na verdade, “a
proximidade não exige mais a contiguidade física”[5] e vice-versa. Flávio
Gikovate endossa essa ideia ao sugerir que "quanto mais o indivíduo for
competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação
afetiva".[6]
Sempre contraponho essa visão pessimista e determinista do amor àquela, cristã,
de C. S. Lewis, o que rende uma discussão interessante entre os alunos.
O Eros grego, por outro lado, é de difícil tratamento, em razão da
opinião vulgarizada dele como o cupido, ou o amor puramente erótico, físico.
Atualmente orientei os alunos a perceberem as transformações por que passou o Eros grego desde Hesíodo até o Eros platônico.
A compreensão de uma evolução do amor grego que culmina na contemplação do Belo
em si (ou da produção no Belo) não é de fácil assimilação, o que requer uma
compreensão mais geral da filosofia platônica. Eis, pois, a nossa missão neste
bimestre!
[1] No
momento não disponho dessa obra de Lewis. O que escrevo é resultado de uma
leitura realizada em 2010.
[2]
<http://pensador.uol.com.br/soneto_de_fidelidade/> Acesso em 11/03/2013. Grifo
meu.
[3] http://jornaldedebates.uol.com.br/debate/amor-romantico-virou-mito/12338.
Acesso em 10/02/2013.
[4] Apud http://jornaldedebates.uol.com.br/debate/amor-romantico-virou-mito/12338.
Acesso em 10/02/2013.
[5]
Idem.
[6] Apud http://jornaldedebates.uol.com.br/debate/amor-romantico-virou-mito/12338.
Acesso em 10/02/2013.
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