Assumi algumas aulas de
inglês este ano. Não lecionava inglês desde 2004, acho. Muita tensão e alguns
vacilos – é impossível evitar alguns, diante dos quais alguns alunos reagem
impassivelmente e mais pelo trabalho de corrigir uma palavra no caderno que
pela gravidade do erro. O fato de estar cursando o quinto período do curso de
Letras (português e inglês) me encorajou. Acredito que vamos ter sucesso, a
despeito do que ainda continua sendo uma sala de aula: apatia, muita conversa
fiada e irreflexão. Fernando Pessoa disse que o poeta é um fingidor; muitos
alunos também, embora não tão discretos quanto o poeta.
As aulas de inglês não me
impedem de filosofar, de refletir sobre o cotidiano escolar e o que fazemos na
sala de aula. Hoje, ao propor um exercício depois de uma revisão sobre personal pronouns um aluno exaltou-se
diante do fato de ter que escrever. Falei-lhe que esse tipo de coisa é
naturalmente aquilo que um professor pede aos seus alunos. Isso me ensejou uma
breve fala baseada num artigo que eu havia lido no intervalo entre o fim do
turno vespertino e início do noturno. O artigo tratava da comercialização do
ensino, a propósito do que vem ocorrendo com o saber no contexto do
capitalismo, caso em que o conhecimento perde o seu valor de instrumento de
atualização das potencialidades humanas para se transformar em item de consumo
em espaços em que “quem tem dinheiro leva”... o diploma, óbvio! Isso é o que
tem caracterizado sobretudo as instituições privadas de ensino superior, as
quais por privilegiarem o lucro não estabelecem padrões mínimos de intelectualidade
aos “clientes”. O gosto pelo saber, sua busca enquanto algo inerentemente
próprio da formação humana, é preterido num contexto de coisificação das
pessoas ante o poder irresistível do capital. A minha intenção com essa fala
foi tentar explicar ao referido aluno que ele também, como muitos outros, não
passava de vítima desse processo reificante.
A minha atitude docente interdisciplinar
terminou por suscitar uma reivindicação de retorno à aula de inglês por parte
de um outro aluno, que exclamou: “É aula de sociologia?”
Enfim, minha condição de
professor de inglês não me impedirá de exercer a reflexão que as práticas
interdisciplinares e transversais podem proporcionar em qualquer que seja a
aula ou disciplina, principalmente quando nossos alunos ainda se apresentam
como vítimas de um sistema de ensino que considera o saber do ponto de vista
compartimentado e que não venceu ainda a luta contra o poder coisificador dos
processos desumanizantes do capital.
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