Como professor e aluno de
história já me confrontei com questões bastante controversas em sala de aula,
enquanto aluno e na condição também de professor. Na maioria das vezes tento
manter uma postura de neutralidade – isso é possível? – embora alguém de
qualquer dos lados (criacionistas ou ateus), possa vislumbrar uma postura bem
definida a partir daquilo que falo.
Ao iniciar as aulas de história
este ano, na 1ª série do ensino médio, apresentei, depois de algumas questões
introdutórias sobre a disciplina e o fazer históricos, uma lista resumida dos
primeiros hominídeos, conforme divulgada em sites especializados e nos livros
didáticos em geral. Um colega me perguntou se eu iria fazer algum contraponto
com a bíblia e eu o respondi em tom negativo, que apresentaria argumentos
avessos ao evolucionismo mas não a partir da bíblia.
Essa questão, que se insere no
contexto maior do paradigma evolucionista – e por que não dizer, do dualismo
cristianismo versus naturalismo
ateísta – já é objeto de ampla discussão que mantenho com alguns amigos e
colegas e acredito que estou aprendendo muito sobre isso, seja a partir de
textos cristãos apologéticos ou de materiais assumidamente evolucionistas. Uma
coisa é certa: quem se posiciona de qualquer dos lados em questão parece
embebido dos mesmos elementos de defesa: alegação de racionalidade, empiria e muita fé, ainda que esta seja
normalmente negada. Mais uma coisa: sou muito incipiente no assunto.
Ao apresentar a série mais ou
menos resumida de supostos hominídeos aos alunos, começando pelo Sahelanthropus Tchadensis, seus mais ou
menos 7 milhões de anos, até chegar no homo
sapiens, passando inclusive pelos australopitecíneos, não deixei passar em
branco a possibilidade de discutir determinados elementos que se reúnem e
servem à vontade de quem quer fazer passar um discurso qualquer por verdadeiro.
A maior parte desses fósseis pode muito bem não passar de espécies símias que,
apesar de certas semelhanças com o homem atual, nunca representaram um elo de
transição entre uma história evolutiva como a tão defendida nos últimos três
séculos.
O mesmo ocorre ao tratar de
outras temáticas. Ao abordar o multiculturalismo em aulas de história e
sociologia é difícil não chamar à atenção ao aspecto circular e ilógico da
questão no nível dos enunciados. Só pra constar, normalmente sou condescendente
com esses temas em sala de aula, mas evito não deixar passar em branco uma
discussão mais abrangente sobre eles. Por exemplo: posso orientar os alunos a
serem tolerantes, condescendentes com todas as culturas, mesmo com as que apresentam
elementos antagônicos; que aceitem que as culturas não devem ser comparadas com
um padrão de civilização qualquer, mas que cada uma tem em si seus próprios
critérios de validade e verdade. No entanto, ao lidar com isso no nível
filosófico sempre os inquiro sobre a ideia de aceitar ideias antagônicas como
verdadeiras. É o caso, por exemplo, de considerar o Cristianismo verdadeiro e
sua noção de monoteísmo e ao mesmo tempo assumir que as diversas culturas
politeístas, e até mesmo as ateístas, são também verdadeiras. Como lidar com
isso no nível das crenças filosóficas?
Alguém poderá supor que minhas
aulas são estranhas, esquisitas por conta desse ceticismo em relação ao “politicamente
correto” do conhecimento. Por outro lado, dadas todas as possibilidades de
transformações que ocorrem no saber não é possível ficar bitolado em ideias
fixas.
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