terça-feira, 14 de maio de 2013

Aversão às aulas e indisciplina



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Considero que a vontade de aprender sufocaria qualquer vestígio de indisciplina na sala de aula, a menos que as expectativas dos alunos não fossem atendidas. Neste caso a indisciplina seria notada apenas em aulas em que o professor vacilasse no domínio do conteúdo, em que permitisse que uma personalidade sua, agressiva, por exemplo, se impusesse na sala ou quando os alunos estivessem se manifestando contra situações envolvendo posturas da direção ou outras relacionadas à infraestrutura do ambiente escolar. De qualquer modo, considerando o contexto escolar local, a vontade de aprender suprimiria em absoluto qualquer empecilho à aprendizagem que pudesse se apresentar da parte do aluno, sem levar em consideração questões de outra ordem, como certas dificuldades de aprendizagem.

Como a vontade de aprender é um elemento quase que totalmente ausente do espaço escolar em que atuo certas formas de indisciplina terminam germinando e se reproduzindo cada vez mais a cada ano. Há alunos extremamente dedicados, mas em algumas ocasiões parecem se incluir, mesmo que involuntariamente, em práticas avessas à aprendizagem e até mesmo em atitudes indisciplinares. Outros que tentam de todo se isolarem podem até sofrer desmoralização. É como se se sentissem excluídos do grupo mais geral, mais ou menos como o estereótipo do nerd americano em suas relações com os demais alunos.

Até aqui se percebe já que tipo específico de indisciplina está sendo referido aqui. Não se trata de uso de violência com armas contra os colegas ou contra os professores, mas outras formas de indisciplina que se caracterizam pela imposição de um ritmo próprio às aulas conforme a atitude de aversão à aprendizagem própria de nossa clientela. Trata-se das conversas excessivas e intermitentes em alto e bom som sobre assuntos do cotidiano local. Em algumas turmas a situação só é normalizada depois de árdua troca de farpas entre alunos e professores. Pedagogos por demais otimistas e distantes do cotidiano escolar dirão que tais assuntos dos alunos são oportunidades para explorar situações didáticas que levem em conta as temáticas ou assuntos introduzidos pelos alunos, mas convém dizer que não se trata disso, uma vez que qualquer tentativa de camuflar as aulas com temas do cotidiano será frustrada tão logo seja percebida enquanto tal.

Como combater tanta aversão ao saber? Pra começar poderíamos refletir sobre as suas causas, que para mim tem muito a ver com as características atuais da sociedade de consumo embebida e conduzida por discursos midiáticos com um potencial alienador de eficácia incrível. Valores culturais, sociais e estéticos subordinados à logica do binômio produção/consumo são introjetados intermitentemente no nosso público escolar de forma eficiente e com consequências terríveis para o processo de aprendizagem escolar. Esses valores, por estarem também presentes nas instituições em geral, terminam por consolidar um perfil de estudante totalmente estranho, indiferente, resistente ao saber.

Geralmente se atribui às instituições família e igreja, por exemplo, responsabilidades por esse estado de coisas. A maioria das considerações feitas nesse sentido ignora, entretanto, que essas instituições também são vítimas da ideologia danosa do capital que prescreve valores outros que não os de aprendizagem do saber ensinado na escola. É por isso que podemos perceber alunos no espaço escolar aparentando a prática de penitências (pés descalços, por exemplo), enquanto não dão a mínima para as regras escolares ou pelo menos para o que prescreve o bom senso, como é o caso de permitir que o professor apresente um tema em sala com a atenção devida.

As instituições sociais (família, igrejas, associações em geral) precisam acordar para a percepção da constituição histórica dos perfis de aluno em evidência na contemporaneidade e agir em consonância com a escola em favor da formação das gerações que se sucedem. Em vez do anti-intelectualismo, da postura antagônica expressa à escola enquanto espaço de representação do saber secular, precisam perceber a origem de determinadas problemáticas sem recorrer unicamente ao critério espiritual, por exemplo, ou do senso comum em geral, como o fazem muitos pais de família.

Até que isso aconteça assistiremos a paradoxos como o do penitente/indisciplinado e do aluno que se fecha à luz.

2 comentários :

  1. Meu caro, é realmente preucupante. Essa onda de não responsabilizar os "menores" por suas ações as vezes até crimonosas, acaba fazendo com que essa clientela acabe pensando que podem tudo, inclusive não aprender, atrapalhar, desrespeitar todos, incluisve pais e professores. O pior, é que essa impunidade, na minha opinião, é também uma forma de dizer que não estão nem ai pro povo. Não se cobra, não se ensina, a pobreza e a marginalização se torna um ciclo vicioso, e a pequena elite faz a festa no final de tudo, iclusive com o apoio dos trabalahdores burocratas que assumem cargos independetemente da competencia que tem... por isso digo: viva os homens de ideais altruistas.

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