quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Aprendizagem sem aplicabilidade



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A aplicabilidade do saber é um lugar-comum do discurso pedagógico contemporâneo, ocupando espaço nos mais diversos métodos de ensinos propostos pelos teóricos atuais. Noutras palavras, não caberia ao aluno apenas memorizar informações ou noções do conhecimento mas aplicá-los em situações ou problemas que venha a enfrentar, inclusive fora da sala de aula.


Na prática, todavia, nossa metodologia ainda se choca com uma tradição de aprendizagem que demonstra que a aplicabilidade do saber não é uma etapa constante das sequências didáticas planejadas e executadas por muitos professores. Isso pode ser confirmado a partir da aplicação de atividades avaliativas em que se requer dos alunos que utilizem o saber supostamente aprendido em novas situações. É o caso tão bem conhecido do aluno que, uma vez tendo aprendido a resolver problemas simples de matemática com laranjas, defrontado com uma prova em que uma questão semelhante se referia a maçãs, não conseguiu realizar os cálculos. Os alunos, aliás, resistem veementemente a esse tipo de atividade avaliativa que apresenta problemas novos a serem interpretados ou resolvidos a partir do que foi aprendido.


Esse fato é esclarecedor do quanto o ensino no Brasil parece ter evoluído muito pouco ou quase nada em alguns aspectos. Sabemos de muitos professores que ainda investem em tópicos para memorização pelos alunos para uma posterior reprodução do que foi memorizado nos testes avaliativos. Alguém poderia até argumentar que o simples fato de se falar em provas ou testes é sinal de que não houve evolução. Entretanto, quando nada mais há que sirva de estímulo para que os alunos voluntariamente se envolvam nas atividades escolares, o recurso à prova aparece como elemento de cobrança de resultados do sistema educativo diante dos alunos, dado o seu relativo sucesso em se verificar determinadas aprendizagens. O abandono total ou parcial da prova só faz sentido em contextos em que os projetos, as atividades coletivas em geral, e determinado tipo dinâmico de aula conta com a disposição do aluno em aprender, o que não é o caso da condição da clientela das escolas públicas do país, para a qual aprender adquiriu a conotação definitiva de castigo.


Somando-se a isso a exigência dos sistemas oficiais de ensino por resultados numéricos imediatos fica explicado porque muitos parecem recorrer a métodos de ensino e avaliação em que fica mais fácil fazer emergir algum tipo de resultado, ainda que superficial, como é o exemplo do recurso à memorização dos alunos para responderem questões simples, que não envolvam qualquer tipo de aplicabilidade. 

Pra quem acha que ensinar vai um pouco além disso resta se chocar e indignar-se com os resultados práticos e numéricos e, como é o meu caso, se convencer de que em vez de, por exemplo, ensinar filosofia prática para os alunos e pedir que em atividades avaliativas ou situações prática reais se posicionem em relação a determinadas condutas morais, a partir de uma compreensão da ética discutida em sala de aula, que apenas memorizem o que é ética e o que é moral para reproduzirem o que foi decorado abaixo das questões solicitadas. Deixo claro, entretanto, que ainda não entreguei os pontos.


2 comentários :

  1. Lembre, Feio: faça sua parte. E torça pra que dê certo.

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    1. Frustração, Gomez, muita frustração. Mas é enfrentar mesmo, fazer a nossa parte.

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