segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cansado


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Basta! Estou cansado! Se houver alternativas disponíveis estou disposto a desistir de ser professor – este é um pensamento que sem dúvida toma de assalto qualquer professor de vez em quando.

A profissão de docente de escola pública parece menos atraente a cada dia. Se o salário não agrada a muita gente as condições em que o exercício da profissão se realiza são o golpe de misericórdia.

Não obstante tudo isso um dos elementos que mais me motiva a lecionar é a segurança de que estou fazendo algo que pelo menos agrada ao público, aos estudantes, a despeito da indiferença deles na maioria do tempo. Podem não valorizar o estudo mas consideram que estamos fazendo o bastante por eles. Entretanto, quando nos passam a ver puramente como antipáticos, inimigos, insolentes e chatos, e a isso acrescentam a responsabilidade por não aprenderem ou não gostarem de aprender – aí a coisa chega a um ponto em que não adianta insistir e ir em frente, de forma alegre e otimista, fazendo das fraquezas forças e ignorando o poder dos ardis que prendem nossos alunos à ignorância e ao fracasso dela resultante.

Ensinar hoje em escola pública é vender carne a vegetarianos que passam a se irritar com o açougueiro pelo produto que este vende. Reiteradamente tenho refletido aqui sobre os condicionantes de várias ordens que contribuem para o perfil do aluno de hoje, o que nos impede de vê-los apenas como vilões na história, mas acredito que algo pode ser feito no sentido de alterar um pouco essa configuração, chamando-os mais à atenção sobre o valor da educação ainda que, sobretudo considerando a menoridade deles, utilizando de métodos que levem em conta a incapacidade deles para decidirem sobre o que lhes será útil para a vida.

A ideia do ensino fundamentado simplesmente no caráter bidirecional da aprendizagem, em que o papel de um professor que gerencia processos de aprendizagem é considerado inovador, senão definidor mesmo da aprendizagem, só faz sentido se considerarmos a existência de um público afeito ao ato de aprender. Longe de se ensinar alguém compulsoriamente, defendo a partir de então um ensino que demonstre ao aluno e à sua família os resultados da negação do conhecimento, pois enquanto a escola premiar a aversão do aluno pelo saber com a aprovação automática este estado de coisas não se alterará, senão para pior. É surpreendente como mesmo as instituições de ensino superior, sobretudo as particulares, cederam a esse tipo de aprovação cujos resultados práticos são do conhecimento de todos os usufrutuários dos serviços ofertados através de profissionais mal formados.

A sugestão pode parecer extremada, mas é resultado da decepção do momento. A questão é que algo precisa ser feito e se depender das instâncias superiores responsáveis pela educação das massas a aprovação compulsória se expandirá em prejuízo da instituição de práticas de aprendizagem significativas. Caberá a nós, então, restritos aos espaços escolares, revolucionar a aprendizagem com métodos convenientes, o que não se trata de remilitarizar a escola ou imprimir-lhe caracteres prisionais, mas confrontar alunos e pais com as consequências da má formação numa sociedade dita da informação e do conhecimento.

5 comentários :

  1. A situação está mesmo absurdamente feia. Não conseguimos mostrar para os nossos alunos a armadilha montada por um sistema podre e corrupto mas que se beneficia da ignorância de seu povo. Essa educação de faz de conta, a educação integral que só desintegra e aliena longe de libertar torna as pessoas cada vez mais vítimas de tutores bem intencionados que só olham pro próprio bolso. E uma pena. Da forma que as coisas estão ocorrendo veremos cada vez mais bolsas e mais bolsas para garantir que os atuais e futuros adultos possam comprar seus statos mesmo que minimamente.
    sou solidário a sua angústia companheiro.

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  2. Concordo contigo. Sinto-me extremamente cansada também e encarar mais um bimestre será um martírio, mas vamos que vamos. Eu sempre dou o meu melhor, mas infelizmente estou esgotada.
    www.divaparaprofessores.blogspot.com.br

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    1. infelizmente a situação dos colégios públicos estão piores do que penitenciária ;e os professores são réfens de delinquentes juvenis....

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  3. Deus, como tambem me vejo cansada. MEsmo fazendo de tudo, mesmo me reinventando...na sala de aula estou cansada demais..mesmo sendo no infantil, geração carente, mimimi,Brasil que acaba com a propria educação. Não tenho nem palavras, só cansei

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