terça-feira, 13 de novembro de 2012

Corre, que lá vem aula! II


Aula de Filosofia. Os alunos têm em mãos um poema de Brecht (O analfabeto político). É feita uma leitura inicial e aguardo todos a completarem para uma segunda leitura, coletiva, para uma posterior ou mesmo simultânea discussão. 

Enquanto alguns dos alunos encerram a primeira leitura, encerramento denunciado pelos pares de conversas que novamente se constituem, posso perceber um dado alarmante, observado praticamente em todas as aulas, versem sobre o que for – as conversas nunca se referem ao assunto da leitura ou do tema em questão, em quaisquer das aulas. Hoje é o poema de Brecht, ontem foi uma aula sobre o processo de desenvolvimento da indústria, anteontem sobre os antecedentes históricos da emancipação do estado, mês passado sobre a Revolução Francesa, etc. Nada disso, senão a duras penas, foi discutido  com um ou no máximo dois alunos por turma sob ora um silêncio forçado e indiferente, ora uma saraivada de discussões paralelas que vão desde descrições de vizinhança à comentários sobre a novela das oito.

À primeira vista minha descrição pode parecer pessimista e inevitavelmente carregada de frustações com a turma x ou y. Aliás, quase sempre são todas as turmas e a descrição é tão real quanto o confirmará a presença de qualquer estranho na sala em qualquer dia normal de aula.

A questão é que não se trata apenas de desabafo ou de exposição zombeteira do que ocorre onde deveriam estar ocorrendo processos educativos genuínos, frustrados por condicionantes históricos que precisam ser investigados para que a situação seja corrigida.

É comum em face disso discursos saudosistas sugerirem um retorno ao tempo da palmatória e do ensino totalmente forçado quando não do próprio Estado totalitário. Mas será esta realmente a solução? Creio que não.

Mas é bom começarmos a propor alternativas a esse ensino trágico.

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