Aula de Filosofia. Os alunos têm em mãos um poema de Brecht
(O analfabeto político). É feita uma leitura inicial e aguardo todos a
completarem para uma segunda leitura, coletiva, para uma posterior ou mesmo simultânea discussão.
Enquanto alguns dos alunos encerram a primeira leitura, encerramento denunciado pelos pares de conversas que novamente se constituem, posso perceber
um dado alarmante, observado praticamente em todas as aulas, versem sobre o
que for – as conversas nunca se referem ao assunto da leitura ou do tema em
questão, em quaisquer das aulas. Hoje é o poema de Brecht, ontem foi uma aula
sobre o processo de desenvolvimento da indústria, anteontem sobre os
antecedentes históricos da emancipação do estado, mês passado sobre a Revolução
Francesa, etc. Nada disso, senão a duras penas, foi discutido com um ou no máximo dois alunos por turma sob ora
um silêncio forçado e indiferente, ora uma saraivada de discussões paralelas
que vão desde descrições de vizinhança à comentários sobre a novela das oito.
À primeira vista minha descrição pode parecer pessimista e
inevitavelmente carregada de frustações com a turma x ou y. Aliás, quase
sempre são todas as turmas e a descrição é tão real quanto o confirmará a
presença de qualquer estranho na sala em qualquer dia normal de aula.
A questão é que não se trata apenas de desabafo ou de
exposição zombeteira do que ocorre onde deveriam estar ocorrendo processos
educativos genuínos, frustrados por condicionantes históricos que precisam ser
investigados para que a situação seja corrigida.
É comum em face disso discursos saudosistas sugerirem um
retorno ao tempo da palmatória e do ensino totalmente forçado quando não do
próprio Estado totalitário. Mas será esta realmente a solução? Creio que não.
Mas é bom começarmos a propor alternativas a esse ensino
trágico.
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