sexta-feira, 2 de novembro de 2012

We don’t need no education

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Permitam-me mais uma referência à another brick in the wall, mas não seria justificável se a música não correspondesse de forma tão perfeita à situação por mim vivenciada no cotidiano escolar.

É verdade que a expressão utilizada como título do texto já é percebida cotidianamente no espaço escolar nas atitudes subliminares da indisciplina, da fuga às atividades, da aversão às discussões, etc. Mas há momentos em que ela parece irromper em verdadeiros brados uníssonos: We don’t need no education! É o que percebi de forma tão incisiva e registro no ocaso de mais um dia letivo.

Talvez este seja o telos do professor de escola pública no Brasil: tentar realizar um processo numa direção quando a maioria dos sujeitos alvos da prática docente insiste numa mudança de rumo. Se alguém já taxou a escola de mero aparelho ideológico de Estado, enquanto outros advogaram em favor de sua abolição, a clientela brasileira da escola pública repete em uníssono: “Não precisamos de educação! No momento até que a atitude é coerente, pois, via de regra, a educação escolar básica prestada pelo governo atualmente pretende menos educar do que acomodar as coisas ao atual estado econômico: trata-se de mero equilíbrio entre o interesse do capital e do Estado assistencialista, que em conluio concertam: “Eu te repasso os impostos incidentes sobre o meu lucro e você me garante a massa indócil de consumidores”.[1]

O problema é que nesse teatro há atores que não estão se comportando de acordo com o enredo, o que é o meu caso e de muitos outros, sejam professores, alunos, pais, técnicos, que não querem simplesmente “dançar conforme a música”.

Infelizmente os dissidentes somos como Winston Smith contra todo o sistema do Grande Irmão, embora eu não pretenda ao final curvar-me docilmente às demandas dessa configuração econômico-política totalitária, desumanizante e cruel.[2]

Enfim, que o dia de amanhã surja com novas esperanças e as palavras tenebrosas que ora ajudam a enegrecer esta noite renasçam com uma certa carga de otimismo.




[1] Neste ponto refiro-me a uma leitura que fiz de “A produção da Escola Pública Contemporânea”, de Gilberto Luiz Alves.
[2] Aqui a referência é ao Romance antiutópico de George Orwell, 1984.

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