sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O professor, o retorno



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Há mais ou menos dois meses não publicava aqui no diário. Compreensível, considerando que estávamos em férias em boa parte desse período e não pude me confrontar com os incidentes próprios de sala de aula que me motivam a escrever pra esta página.

Mas eis as aulas em curso e minha pena novamente em ação. Pra começar em clima de mais um conflito, pois, diferentemente do poeta não pude me conter “em face do maior encanto” – a possibilidade já quase realizada de um novo emprego e toda a insipidez própria da realização de atividades que já se cogita abandonar.

Mas vamos às salas de aula. Novidades? Sim! Ou pelo menos avanços, melhorias pontuais, relativas. É evidente a ampliação, ainda que mínima, do círculo de leitores, principalmente aqueles ávidos pelas sequências ficcionais de Rick Riordan. Da minha parte continuo enfatizando (o que já parece até chato pra muitos) a necessidade da leitura constante e diversificada como condição para o sucesso escolar, profissional e a compreensão e transformação do mundo. E é exatamente a ausência da leitura que dificulta a compreensão das noções simples de filosofia ou sociologia ou o contato com a produção literária em geral. Numa aula sobre o conto não é estranho ouvir de alunos a quem pedi que lessem um exemplar machadiano – “Que invenção, essa sua, professor!” ou reclamações sobre o número de páginas do texto, que eram três. Relacione a isso o padrão do material didático ao impor conceitos, noções, níveis de leitura e discussão que parecem enquadrar um perfil típico de aluno – o leitor, o curioso, o estudante.

Uma dificuldade sempre latente na sala de aula é a aquela, enorme, que têm os alunos de lidar com o princípio voltairiano do respeito à liberdade de expressão. Aliás, foi um dos poucos elementos contratuais que discuti em sala de aula – o respeito à fala do outro, ainda que ingênua. Em oposição à luta “até o fim” pela direito à fala do outro pereniza-se a zombaria, muitas vezes, a indiferença, a hostilidade própria aos que não sabem o que é estudar porque nunca viram um exemplo real disto conforme o fazem as classes ou grupos que depositam na aprendizagem do saber convencional a permanência secular que esses estratos usufruem na hierarquia social.

Obviamente que esse retrato não é totalmente  homogêneo. Há alunos que fazem valer a pena qualquer sacrifício docente, que fazem ressurgir o ânimo dos que acreditam ser a escolarização do oprimido um ato de rebeldia contra o status quo. Mas esse número é dos que se obscurecem em face da turba misosófica.

Enfim, vamos ver como as coisas se processarão nestes dias de dilemas e conflitos entre as novas oportunidades de trabalho e a missão de educar os não esclarecidos. Uma coisa é certa: que as massas nasceram para as cavernas da ignorância e que estão dispostas a hostilizar, quase sempre, qualquer um que se arrogue a posição de esclarecedor, de parteiro de ideias, e o exemplo de Sócrates é sempre eloquente pra corroborar isso.

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