segunda-feira, 11 de março de 2013

Ah! O amor...



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O tema do amor é parte integrante do currículo de filosofia da 2ª série do ensino médio e costuma ser um tema que, a princípio, chama muito à atenção aos alunos, sobretudo às alunas. Desnecessário falar que logo que percebem que a discussão sobre o amor transcende a análise do amor romântico ou mesmo das paixonites, muitos alunos parecem se desinteressar do tema.

Inicialmente costumo dialogar com eles sobre as mais variadas formas de amor: a maternal, a paternal e todas as ligadas pela consanguinidade, o amor agapé, o amor romântico, o Eros da antiguidade clássica grega e também discutimos sobre a paixão. As discussões são limitadas pela própria incapacidade minha de mobilizar muitos saberes e experiências que deem conta da complexidade que caracteriza todos esses amores.

Os amores consanguíneos, apresento-os sempre como instintivos. O agapé, a partir de 1 Co 13; o amor romântico, a partir de uma discussão sobre o que é paixão e o que é amor além de promover ainda um intenso debate sobre o seu fim na atualidade. Neste sentido, utilizo, para tratar do amor romântico, sua distinção da paixão e a ideia do fim do amor romântico, de alguns textos específicos: a obra Cristianismo puro e simples, de C. S. Lewis, o soneto de fidelidade, de Vinícius de Moraes, e alguns textos que circulam na web sobre o fim do amor romântico que utilizam autores como Zygmunt Baumann e Flávio Gikovate.

Para C. S. Lewis a paixão, puro instinto, distingue-se do amor pela característica deste de ser atividade, o que requer cultivo, vontade de amar. A paixão, na condição de instinto, tende a esvaziar-se tão logo se satisfaça nas primeiras vivências de um casal, embora possa durar até uma vida inteira. No caso de ir embora a paixão o amor pode suprir a relação com o afeto, o carinho, a vontade de amar, que pode fazer sobreviver uma relação “até que a morte os separe.”[1]

No caso do soneto de Vinícius de Moraes, utilizo-o para tratar da possibilidade do fim do amor que, a despeito disso, pode ser vivido intensamente: “Eu possa me dizer do amor (que tive):/ Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.”[2]

A ideia do fim do amor romântico parece ser endossada por alguns autores que se identificam com a chamada pós-modernidade. É como se “viver um relacionamento plenamente satisfatório num mundo de contatos rápidos, de bens descartáveis, em que a próxima tentativa – ou o próximo clique – pode trazer resultados melhores do que os obtidos até então” não fosse mais possível.[3] De acordo com Zygmunt Baumann, "nunca houve tanta liberdade na escolha de parceiros, nem tanta variedade de modelos de relacionamentos, e, no entanto, nunca os casais se sentiram tão ansiosos e prontos para rever, ou reverter o rumo da relação"[4]. Na verdade, “a proximidade não exige mais a contiguidade física”[5] e vice-versa. Flávio Gikovate endossa essa ideia ao sugerir que "quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva".[6] Sempre contraponho essa visão pessimista e determinista do amor àquela, cristã, de C. S. Lewis, o que rende uma discussão interessante entre os alunos.

O Eros grego, por outro lado, é de difícil tratamento, em razão da opinião vulgarizada dele como o cupido, ou o amor puramente erótico, físico. Atualmente orientei os alunos a perceberem as transformações por que passou o Eros grego desde Hesíodo até o Eros platônico. A compreensão de uma evolução do amor grego que culmina na contemplação do Belo em si (ou da produção no Belo) não é de fácil assimilação, o que requer uma compreensão mais geral da filosofia platônica. Eis, pois, a nossa missão neste bimestre!


[1] No momento não disponho dessa obra de Lewis. O que escrevo é resultado de uma leitura realizada em 2010.
[2] <http://pensador.uol.com.br/soneto_de_fidelidade/> Acesso em 11/03/2013. Grifo meu.
[3] http://jornaldedebates.uol.com.br/debate/amor-romantico-virou-mito/12338. Acesso em 10/02/2013.
[4] Apud http://jornaldedebates.uol.com.br/debate/amor-romantico-virou-mito/12338. Acesso em 10/02/2013.
[5] Idem.
[6] Apud http://jornaldedebates.uol.com.br/debate/amor-romantico-virou-mito/12338. Acesso em 10/02/2013.

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